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Raisa Haga tem 24 anos, é formada em relações internacionais pela PUC-SP e é executiva. Joga futsal e futebol society com o Pelado Real Futebol & Arte, time amador.

 

 

 

Quando / onde você começou a jogar futebol?

Comecei a jogar futebol em casa, com meus irmãos, com mais ou menos quatro ou cinco anos. Foi meu primeiro contato, pois tenho dois irmãos mais velhos e era uma das coisas que eu gostava de fazer para estar com eles e com meu pai, para me sentir incluída no meio dos meninos. Depois, na escola, com dez anos, comecei a treinar de forma mais séria, mais técnica. Mesmo quando não havia meninas o suficiente para formar um time eu acabava jogando com os meninos, mas eu era muito mais incentivada a jogar handebol (que era considerado “feminino”) e, por isso, acabei percebendo o quanto era apaixonada por futebol apenas na faculdade.

 

Já enfrentou algum tipo de problema, preconceito ou resistência por jogar futebol? Quais? Muitos. Em qualquer ambiente em que se misturam homens e mulheres jogando bola há algum tipo de preconceito, que pode vir de muitas formas. O primeiro é sempre o fato de ser subestimada, como se uma mulher nunca pudesse jogar tão bem quanto um homem. O segundo é o padrão heteronormativo que sempre me foi imposto, já que o futebol é considerado um esporte masculino e como se isso pudesse determinar algo da minha orientação sexual ou nível de feminilidade. Por isso eu era vista como “moleca” ou “machinha”. Há, ainda, o assédio que sofro nas quadras de futebol quando grupos de homens, se sentindo empoderados, acham que o meu corpo vestido de um uniforme, com minhas pernas aparecendo, está à disposição deles para ser criticado, avaliado, elogiado.

 

Você considera o futebol feminino (profissional e amador) negligenciado no Brasil? Por quê? Extremamente. Em todas as categorias (amador, sub17, sub20, profissional) e em todas as modalidades (futsal, grama). Só para citar alguns exemplos: temos a maior jogadora de futebol profissional de todos os tempos, e ela ganha na seleção brasileira muitas vezes menos do que qualquer jogador da seleção masculina; a seleção feminina de futsal, que ganhou todas as cinco edições do Mundial de Futsal, neste ano de 2015 precisou fazer uma campanha pedindo ajuda para financiar sua ida para disputar o campeonato; o Campeonato Brasileiro feminino existe há apenas dois anos; o time da Ferroviária, de Araraquara, acaba de ganhar a Libertadores da América e não houve sequer uma linha nos jornais sobre o fato; entre centenas de outros problemas.

 

Quais são as principais barreiras/dificuldades enfrentadas pelo futebol feminino hoje?

A falta de incentivo, principalmente, desde as categorias de base até os times profissionais. Visibilidade e financiamento ainda são barrados pelo machismo impregnado na sociedade e no futebol.

 

Quais medidas você acredita que podem e devem ser tomadas para dar mais visibilidade à categoria?

É preciso dar, no mínimo, a mesma atenção e validade para o futebol feminino que são dadas para o futebol masculino, o que significa salários decentes, campeonatos bem organizados e transmissão nacional dos jogos. Uma forma disso acontecer é colocar pressão por parte da sociedade civil para que as confederações brasileiras não menosprezem o elenco e a comissão dos times femininos.

 

De que forma o futebol influencia a sua vida pessoal?

De muitas formas. Jogo futebol de duas a três vezes por semana, no mínimo, ou sempre quando tenho oportunidade. Muitas das minhas amizades mais próximas são pessoas com as quais joguei. Faço parte de grupos que debatem o futebol feminino. Gostaria que a minha carreira fosse direcionada para este tema, de alguma forma. Acompanho tanto campeonatos nacionais quanto internacionais, mas com certeza os times que eu mais torço são os femininos.

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