VISIBILIDADE PARA O FUTEBOL FEMININO
Carolina Atra tem 22 anos e é consultora de recrutamento e seleção, formada em relações internacionais. Na maior parte de sua vida estudantil jogou futebol de campo e society - foi somente na faculdade que iniciou a prática da modalidade no salão.
Quando / onde você começou a jogar futebol?
Comecei a jogar futebol quando pequena. Sempre tive muito incentivo por parte do meu pai, que é fanático pelo esporte. Jogava na quadra do meu prédio junto com todos os meninos com idade próxima a minha.
Já enfrentou algum tipo de problema, preconceito ou resistência por jogar futebol? Quais?
Já enfrentei muito preconceito por ser mulher. Muitas vezes quis jogar futebol com grupos de pessoas que se formam nos parques, na faculdade, no clube, entre outros, e não me permitiam por ser mulher. Alegavam que eu era mais fraca e que iria deixar os times desequilibrados, além de que poderia me machucar porque eles eram mais fortes e violentos. Outro exemplo é o fato de que, quando era pequena, cerca de oito anos de idade, queria me tornar jogadora de futebol e dizia isso claramente para todos da minha família. Nunca recebi nenhum tipo de incentivo: pelo contrário, me diziam que não tinha futuro mulher jogar futebol e que eu deveria escolher outra profissão. “Que pena que você não nasceu homem”, eles diziam.
Você considera o futebol feminino (profissional e amador) negligenciado no Brasil? Por quê?
Sim, porque é uma categoria que não tem nenhum tipo de incentivo quando comparado ao mesmo esporte na categoria masculina. O Brasil se gaba por ser o “país do futebol”, mas esquece de dizer que esse futebol tem dono. O futebol não é para qualquer um, não é para quem quer nem para quem joga bem. É apenas para homens. Mesmo o futebol feminino, quando consegue um espaço na mídia, é comentado por homens e para homens, como se as nossas atletas não passassem de bonecas que foram colocadas ali para entretenimento masculino, apenas.
Quais são as principais barreiras/dificuldades enfrentadas pelo futebol feminino hoje?
Acredito que as principais barreiras para o futebol feminino hoje são a falta de incentivo e a falta de visibilidade, que estão altamente conectadas. Por não ser incentivado, são poucas as mulheres que pensam em seguir por essa carreira, mesmo jogando extremamente bem. Dessa forma, o futebol feminino deixa se ser visto como uma profissão e passa a ser meramente um hobby. Assim, mantém-se esse ciclo.
Quais medidas você acredita que podem e devem ser tomadas para dar mais visibilidade à categoria?
Algumas medidas imediatas e necessárias são a transmissão dos jogos e campeonatos femininos. Acredito que deve ser dada para o futebol feminino a mesma visibilidade que há para o futebol masculino. Todas as mídias deveriam transmitir informações sobre tal e incentivar que novas mulheres façam parte dos times. Em adição a isso, é necessário também que os salários pagos às mulheres no futebol seja o suficiente para que elas possam tomar isso como profissão e não precisem se dedicar a mais de uma coisa ao mesmo tempo, não permitindo que treinem o quanto deveriam.
De que forma o futebol influencia a sua vida pessoal?
O futebol é meu esporte favorito. Me dá muita força e me ensina diariamente conceitos como garra, raça, amizade, trabalho em equipe. O futebol me relaxa, quando jogo futebol minha cabeça esvazia e paro de pensar em todos os meus problemas. O futebol moldou muito do que eu sou hoje e me trouxe as melhores amigas. Conheci pessoas incríveis que são eternas companheiras de luta.
Tem alguma sugestão de iniciativa para dar visibilidade ao futebol feminino?
Os campeonatos serem transmitidos em rede nacional, assim como os campeonatos masculinos. Programas de televisão que comentem sobre os jogos femininos e façam entrevistas com as atletas. De preferência, programas conduzidos por mulheres.
